quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um conto

"E toda manhã,
mecanicamente tocava sua rotina:
acordar, sair com o cachorro,
algum exercício físico,
banho e trabalho.

No trabalho,
encontrava em meio ao caos, sossego.
Problemas, tarefas, reuniões,
o consumiam de tal forma
que conseguiam abafar o fino e constante chiado
que seu coração emitia.
Como uma cigarra melodiosa cantando.

Ao tornar a casa tarde ou cedo,
buscava uma distração.
Música, livros, revistas, um filme,
brincar com o cão ou o gato,
ou um simples sono sem sonhos.
Algo que só deviasse a atenção do
persistente chiado.

Em algumas noites, festas. Shows.
Um desfile de personagens, marionetes, manequins.
Todos perfeitamente vestidos e preparados para
serem quem não são. Para a vida mediana.
Como surdo, ouvia a todos.
Bocas se mexendo,
sorrisos mudos.

Com o passar das semanas, dos meses,
o zumbido desfez-se,
incorporou-se ao dia-a-dia.
Ficou estéril ao ouvido.
Alguns tons pastéis ganharam vida
Tornaram-se novidade
e quis novamente redescobrir.

QUANTO DURA O TEMPO?
O AMOR DURA AO TEMPO?
O TEMPO PERDURA O AMOR?

Para acordar,
jogou a água que tinha entre as mãos no rosto.
Olhou-se no espelho e viu novos que novos
fios pratas fizeram casa em seus cabelos.
Pode agora lembrar de quando eram poucos
e que agora os poucos eram pretos.

A como todas as manhãs,
voltou ao quarto para despertar
aquela que mudara seu coração.
Que mostrara que a rotina
é só aquilo que praticamos
E descobriu mais uma vez
que se atrasaria para o trabalho."

Não sei se são as coisas, atos, pessoas e momentos que ficam para trás, ou se nós é que os arremessamos para longe. Mas de alguma forma o tempo mais do que horas, nos trás também espaço para nós e para outras pessoas.

O tempo não apaga nada.
Ele adormece as emoções, o necessário para que outras muito lentamente acordem.

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